logo
logo

(2007-2010). Expansão canavieira paulista e agricultores familiares. Formas de resistência a partir do exemplo de Santo Antonio da Alegria.

Projeto individual de Maria Aparecida de Moraes Silva
Pesquisadores participantes: Jadir Ribeiro Damião e Lara Abrão de Moraes
Financiamento: CNPq

Descrição: O presente projeto de pesquisa visa ao estudo das formas de resistência dos agricultores familiares frente ao atual avanço da cultura canavieira no estado de São Paulo. O objeto empírico da investigação se reporta ao município de Santo Antônio da Alegria, situado no nordeste paulista. Segundo os dados do IBGE, este município se constitui numa verdadeira anomalia no conjunto da região de seu entorno, dominada pela monocultura canavieira e pela grande propriedade, na medida em que, além de sua estrutura agrária ser definida por grande número de pequenos proprietários, há o predomínio da policultura. Os objetivos gerais do projeto estão relacionados à definição de agricultura familiar não somente sob os aspectos econômicos e materiais, mas também como locus da cultura, da memória e do habitus social de seus agentes. A discussão teórica está centrada no conceito de habitus social, segundo N. Elias. Este conceito-chave permitirá a compreensão das formas de resistência ao avanço da cana a partir da herança social, do habitus das famílias dos agricultores, manifestos na maneira de produzir e também na preservação da cultura rural, sobretudo, por meio da Festa das Folias de Reis. Além de N. Elias, K. Polany, autor que conjuga as transformações econômicas e culturais, comporá a base teórica da investigação. A metodologia a ser empregada incluirá: a) as fontes orais, por meio da coleta de depoimentos dos membros da família (homens, mulheres, idosos e jovens), dos organizadores do Museu da Folia de Reis, de representantes da Associação dos agricultores familiares, de agrônomos e do prefeito da cidade; b) fotografias, principalmente da festa da Folia de Reis; c) questionários visando a coleta de dados quantitativos da produção e comercialização; d) questionário biográfico com o intuito de obter informações sobre as trajetórias familiares, levando-se em conta os ascendentes e também os descendentes; fontes secundárias, sobretudo os dados do Censo Agropecuário de 2007.

Pesquisadores participantes: Jadir Damião Ribeiro; Lara Abrão de Moraes
Financiamento: CNPq

Resumo: Nos últimos anos, o agronegócio tem sido justificado política e economicamente como a saída para o desenvolvimento do país, sobretudo pela conquista de mercados externos e solução para todos os problemas relacionados ao desenvolvimento. Contudo, as recentes conquistas da venda do açúcar no mercado europeu, sem contar a defesa política e ideológica da produção do etanol (álcool) como solução para minorar o efeito estufa do planeta, não revelam as outras faces relativas aos efeitos sociais e ambientais, bem como as contradições de reprodução dos capitais aplicados nestas atividades.
A justificativa deste projeto está assentada na análise das seguintes temáticas, capazes demonstrar tais contradições e complexidades:

  • Os impactos da modernização tecnológica no tocante ao meio ambiente e à sociedade;
  • A destruição de pequenas formas de produção, cujas áreas cada vez mais cedem lugar à grandes extensões deste produto;
  • O aumento dos níveis de exploração da força de trabalho e da precarização, exclusão, sem contar as denúncias de trabalho escravo e mortes nos canaviais são resultados do crescimento das exigências dos índices dos níveis de produtividade.
  • O mercado de força de trabalho apresenta duas faces: a divisão territorial e o alijamento da participação das mulheres e pessoas mais velhas, sobretudo a partir dos 30 anos de idade;
  • A intensificação das migrações interregionais, sobretudo daquelas regiões mais pobres do país. Nos últimos anos, houve uma mudança expressiva da cartografia migratória, em razão da vinda de trabalhadores do Piauí e Maranhão para a região sudeste;
  • O avanço das áreas de cana caminha ao lado do processo de concentração de terras, dos capitais e do poder político de seus proprietários, além da fusão de capitais, da presença de empresas transnacionais que cada vez mais expandem seus domínios, por meio da compra de usinas existentes no interior paulista há décadas. Segundo informações oferecidas pela UNICA (União dos canavieiros do estado de São Paulo), neste ano de 2006 serão instaladas mais 19 destilarias neste estado, o que exigirá a incorporação de milhares de hectares de terra destinados às plantações de cana. Esta expansão, todavia, não se resume somente a esta região, como também a outras do país. Segundo a mesma fonte, as previsões para 2010 referem-se à criação de mais 200 usinas e destilarias e a incorporação de mais 800 mil hectares em cana em vários estados como Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás e Tocantins, portanto, em áreas do cerrado brasileiro. Esta realidade traz no seu bojo muitos problemas relativos aos novos espaços ocupados por uma única cultura como também o acirramento de suas contradições sociais e ambientais, tais como a apropriação da renda da terra, a relação de usinas e fornecedores, território e águas, poluição ambiental  (queimadas, vinhoto, agrotóxicos) que afeta não somente os espaços rurais como também urbanos.
  • Em virtude do processo de expropriação que acompanha a marcha destes capitais, há igualmente o processo de desenraizamento social e cultural. Os modos de vida do campo, cada vez mais desaparecem em função do apagamento das lembranças, das festas e da cultura de seus antigos habitantes. Portanto, o resgate da memória se impõe como uma vertente importante de análise na medida em que ele possa contribuir para o resgate do processo de identidade destes trabalhadores e influenciar no processo de lutas e resistências;
  • Nas cidades-dormitórios paulistas, onde se alojam a grande maioria dos migrantes, a questão urbana é matizada pelo aumento das discriminações sociais e por redefinições da sociabilidade, marcadas, muitas vezes pela criminalidade e violência.

A análise deste conjunto de problemas sociais, econômicos e ambientais será capaz de gerar uma produção científica que contribuirá para a formulação de políticas públicas, que levem em conta as outras faces do agronegócio num momento em que a mundialização do capital tem reforçado as disparidades sociais no Brasil.

Published by

TRAMA

TRAMA

O Grupo TRAMA (Terra, Trabalho, Memória e Migração) dedica-se à pesquisa acadêmica e extensão. Está no PPGS da UFSCar, e é coordenado por Maria Ap De Moraes Silva.

Comments are closed.