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Maria Moraes é convidada no Seminário Sayad promovido pela PUC-SP

MESA REDONDA III – O que é um Imigrante?

Data: 03/10/2018 – 10h30min

Coordenação: José Carlos Alves Pereira (CEM) ​

“O que o imigrante traz em sua bagagem? E o que fica para trás?”

Maria Aparecida de Moraes Silva (UFSCar) ​

“O que é um imigrante, face ao Estado? Retomando as reflexões de Sayad.”

Helion Póvoa Neto (UFRJ)

“Reflexões acerca da categoria imigrante: do “o que” para “quem” ou da objetificação à humanização do imigrante em Sayad.”

Gustavo Dias (Unimontes)


Informações: www.abdelmaleksayad.wixsite.com/20anosdepois

Em 2018, completamos 20 anos sem Abdelmalek Sayad (1933-1998). Sociólogo de origem argelina e reputação internacional, Sayad deixou importante contribuição para os estudos migratórios. Maestria teórica e técnica, associadas a um conhecimento preciso do fenômeno estudado, possibilitaram com que ele chegasse a reflexões inovadoras acerca do tema. Diz Tassadit Yacine[1] que a sua trajetória de vida teve papel central no desenvolvimento de seus estudos. “A viagem intelectual de Abdelmalek Sayad é única porque é o produto de uma vida de um homem nascido entre as duas guerras mundiais em uma Argélia colonizada já por mais de um século.” (2014, p.13, tradução nossa). Trata-se de um migrante que construiu o seu saber e sua compreensão sobre as contradições dos mundos colonial e pós-colonial através de uma vida em constante movimento. Para ele, a pesquisa sobre o outro não é senão uma introspecção, uma reapropriação de uma história esquecida, impulsionada pela história dominante. Aqui, cabe adicionar como é notável o fato de Sayad gostar de explorar a Odisséia em seus escritos (1998; 2000). A saudade da terra, um mal cujo remédio se chama o retorno, presente na volta de Ulisses para Ítaca, foi uma das formas encontradas pelo autor para demonstrar aos leitores a jornada (porque não homérica!) de seus entrevistados, camponeses despojados de suas terras, que imigravam de uma Argélia recém-independente para os subúrbios franceses.

Com Sayad, a migração já não é compreendida através de uma perspectiva macro ou, então, micro. Ele propôs superar tais dimensões e pensar tal fenômeno social em sua totalidade. A economia capitalista e seus efeitos de transferência de um campo para outro, de um país para outro, de um continente para outro, não devem ser os únicos elementos investigados para compreender as condições geradoras e de perpetuação do fenômeno migratório[2]. O migrante e sua condição existencial paradoxal devem compor essa sociologia voltada à parte inferior da hierarquia social. Esse movimento é produzido pelo emigrante, aquele que saiu temporariamente da sociedade de emigração, e pelo imigrante, aquele que, ao chegar na sociedade de imigração, nasce para a mesma; o paradoxal é que ambos são a mesma e única pessoa. Não à toa, a migração ganha, para ele, as propícias condições para ser interpretada enquanto um fato social completo. Um fenômeno, em sua totalidade, que não pode ser esgotado em um único campo de estudo. Suas diversas facetas possibilitam o diálogo entre as mais diversas áreas (Geografia, Economia, Linguística, Política, Direito, Antropologia, História, Estatística e assim por diante). Nesse quadro interdisciplinar em que o fenômeno migratório está situado, Sayad aprofundou conceitos e lançou novas perspectivas. Ausência, Retorno, Provisoriedade, Exílio e Nostalgia, por exemplo, ganham nova leitura em seus escritos. Em relação ao método, Pierre Bourdieu[3] , seu parceiro intelectual, dizia que o conhecimento íntimo da língua e da tradição berbere, de Cabília, possibilitaram esse sociólogo peripatético a compreender o sentido e os problemas da “imigração” para seus entrevistados. Primeiro gesto de ruptura com um etnocentrismo intelectual, Abdelmalek Sayad devolve, através do uso da entrevista, aos “imigrantes”, que são também “emigrantes”, suas origens, e todas as particularidades que a elas encontram-se associadas e que explicam muitas das diferenças observadas nos destinos posteriores” (1998, p.11).

20 anos depois, as perguntas que fazemos são: Qual a contemporaneidade do pensamento de Sayad para os estudos migratórios em desenvolvimento? Como seus conceitos, categorias de análise e métodos de pesquisa têm contribuído para o avanço dos estudos migratórios no Brasil? Através de três dias de debates, conferências, grupos de trabalho e intenso diálogo entre especialistas nacionais e internacionais em estudos migratórios e nos trabalhos de Sayad, o evento “20 ANOS DEPOIS: a contemporaneidade do pensamento de Abdelmalek Sayad” propõe refletir sobre tais questões e promover o pensamento de Sayad para jovens pesquisadores que começam a trilhar o campo dos estudos migratórios, bem como lançar luz para novas questões que os movimentos migratórios em curso têm chamado a atenção.

Gustavo Dias – Membro da Comissão Organizadora

[1] YACINE, Tassadit. Abdelmalek Sayad ou la formation d’un habitus cultivé (1933-1998). In: MOHAMMEDI, S.M. (Org.). Abdelmalek Sayad, migrations et mondialisation. Oran: Éditions Crasc, 2014. p.13-20.

[2] SAYAD, Abdelmalek. A imigração ou os paradoxos da alteridade. São Paulo: Edusp, 1998.

[3] BOURDIEU, Pierre. Um Analista do Inconsciente. In:SAYAD, Abdelmalek. (1998). A imigração ou os paradoxos da alteridade. São Paulo: Edusp, 1998. p. 09-13.

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TRAMA

TRAMA

O Grupo TRAMA (Terra, Trabalho, Memória e Migração) dedica-se à pesquisa acadêmica e extensão. Está no PPGS da UFSCar, e é coordenado por Maria Ap De Moraes Silva.

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