Objetivamos nesta palestra relatar os caminhos de pesquisas percorridos a partir de nossas experiências, enquanto sociólogas, que estudam o mundo dos/as trabalhadores/as rurais. Tais experiências foram sendo construídas a partir de espaços/tempos distintos.
Maria Moraes vem, por mais de quatro décadas, dedicando-se aos temas relacionados à exploração/dominação de classe, gênero e etnia dos/as que labutam nas terras paulistas, voltadas à produção de commodities, como o açúcar, suco de laranja, café etc. Nesta longa caminhada foi possível perceber o surgimento desta categoria laboral desde os anos de 1960, como também o seu possível desaparecimento nos dias de hoje. O intuito investigativo norteador foi buscar não somente compreender, mas também atuar no sentido da produção de práticas voltadas para a transformação social. Práticas que germinaram no seio da universidade, envolvendo os estudantes, e também além dela, por meio do diálogo com sujeitos políticos, agentes sindicais e da esfera jurídica. Práticas sedimentadas pela emoção e razão, sempre unidas. Durante este percurso, a trajetória de Maria encontra a de Tainá Reis. Em 2011, ainda mestranda no PPGS/UFSCar, Tainá se dedicava à pesquisa no âmbito da Sociologia Rural, preocupada com as relações de propriedade e renda fundiária na produção canavieira do estado de São Paulo. Após assistir ao vídeo documentário Fragmentos, realizado por Maria Moraes, houve uma primeira inquietação sobre os trabalhadores rurais. Inquietação que depois de dois anos se tornou projeto de doutorado. O trabalho de campo trouxe a reflexão sobre a subjetividade do/a pesquisador/a, e foi ali que se percebeu que, de fato, a emoção fecunda a razão, como dito por Heleieth Saffioti. Tecidas em espaços/tempos distintos, a trajetória das pesquisadoras se cruzam, e o encontro tem produzido reflexões teóricas, metodológicas e subjetivas que, presentemente, se materializam na realização do projeto do repositório digital. O projeto é um esforço de reconstruir a memória coletiva dos trabalhadores/as rurais, sujeitos dos quarenta anos de pesquisa de Maria Moraes, por meio de um acervo digital com aproximadamente mil horas de áudio de entrevistas. Tainá Reis tem digitalizado e editado os áudios, sendo atravessada por experiências de outro espaço/tempo.