Trabalho e Gênero. Reflexões sobre trabalho, gênero e adoecimento no corte de cana
A Ruris – Revista do Centro de Estudos Rurais – UNICAMP lança em sua edição de março de 2017 um dossiê sobre processos migratórios e trabalho rural no Estado de São Paulo
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Organizado pela Professora Lidiane Maciel, pós doutoranda em Sociologia da UNICAMP. O dossiê conta com artigos de pesquisadores de diversas universidades (UNESP, UFABC, UFSCAR, USP, UNICAMP), jogando luz sobre os processos vivenciados por aqueles que sustentam a moderna lavoura agrícola brasileira, os trabalhadores rurais. Dentre os textos, está o da doutoranda Tainá Reis, sobre a articulação entre trabalho, gênero e adoecimento no corte de cana.
A autora apresenta resultados parciais da pesquisa de doutorado desenvolvida no Programa de Pós Graduação em Sociologia da UFSCar, orientada pela Profa Maria Aparecida de Moraes Silva. A pesquisa foi realizada no município de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha/MG, local que já contou com intenso fluxo migratório para o corte de cana paulista.
Tratando sobre a consequência do trabalho superexplorado nos canaviais e sua articulação com padrões de gênero construídos socialmente, a reflexão traz a percepção de que o cortador de cana adoecido vê em seu adoecimento o desmantelamento daquilo que era alicerce em sua vida social. O adoecimento não pode ser compreendido como resultado biológico individual do corte de cana. Há uma trama de relações determinadas historicamente, em que classe e gênero se entrelaçam, que engendra o descarte do cortador de cana. O corpo, entendido antes como produtivo, e só por isso valorado, torna-se improdutivo. As repercussões desse processo são diversas, atingindo não só as relações
familiares, mas a própria psique dos trabalhadores. É uma adaptação do corpo a uma condição de classe e de gênero.