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Defesa de tese: Papagaio velho não pega língua mais, não

No dia 09 de abril, às 08:30h, no auditório do Departamento de Sociologia, ocorrerá a defesa da tese de Bernardo Vaz de Macedo, intitulada “Papagaio velho não pega língua mais, não”: estuciando o jeito de falar e de fazer, o jeito de ser, no quilombo Córrego do Narciso do Meio, Vale do Jequitinhonha (MG).

A banca será composta pelos professores:

  • Profª Dra. Maria Aparecida de Moraes Silva (Orientadora e Presidente)
  • Profª Dra. Andréa Luisa Zhouri Laschefski – UFMG (Membro Titular)
  • Profª Dra. Flávia Maria Galizoni – UFMG (Membro Titular)
  • Prof. Dr. Valter Roberto Silvério – UFSCar (Membro Titular)
  • Prof. Dr. Rodrigo Constante Martins – UFSCar – (Membro Titular)

Resumo: Em um quilombo no Vale do Jequitinhonha, o termo estuciar parece ter origem em uma inflexão de astuciar, que designa “inventar, traçar astuciosamente, planejar e realizar com astúcia, esperteza”. É acompanhado de muitas outras inflexões na pronunciação de palavras, como batuc (“c” mudo), comunidad ( “d” mudo), fort ( “t” mudo), manaíba (maniva: muda de mandioca), út (útero), “suverter” (“sumir no mundo”); palavras hibridizadas com termos de sonoridade e origem na língua Kimbundu, de povo Bantu, como jequi, mazuá e mundé (armadilhas para animais), angu, cachaça, farofa, fuxico, mamona, moringa, muxiba, tutano (cf. registros de Reinadeira Pedrina de Lourdes Santos). Uma palavra ela própria uma reinvenção, constituindo um repertório expandido de um dialeto rural específico ao Jequitinhonha (cf. Carolina Antunes, 2013), estuciar designa esse jeito específico “de falar e de fazer”, essas recriações, experimentações ou paródias improvisadas da língua, um dos “sotac [sotaques] que a gente tem, nosso jeito de falar… diferente dos outros”. Significa “inventar, fazer diferente”, podendo-se estuciar a letra de uma canção, um novo cômodo de uma casa (planejar), um caso, uma história ou uma mentira, uma comida ou bolo, com uma nova combinação de ingredientes. Estuciar é o que faz Cona com sua produção caseira de sabão, na qual mistura “um tanto de bestage[m]”: sebo de boi, trigo, folha de mamona, detergente, álcool, sabão em pó… Essas práticas cotidianas de uso da língua, “maneiras de fazer com” que subvertem e manipulam sintaxes prescritas pela língua dominante, (dis)tensionando-a a partir de códigos próprios, corresponderiam ao que De Certeau (1998: 91-106) chamaria de astúcias e táticas. O estuciar se faz notar também na “recriação das formas de identificação” (Stuart Hall, 1996; Avtar Brah, 2006) compreendida pelo recente aquilombamento da comunidade Córrego do Narciso. Cotejando conversas (história oral) com moradores/as mais velhos/as com aquelas realizadas com jovens, busca-se compreender elementos dessa reidentificação quilombola, com sua correspondente assunção de novas posições objetivas e subjetivas pelos sujeitos. Lideranças mais velhas podem subscrever uma institucionalidade ou um dever-ser quilombola, embora de uma maneira que não nega, mas mantém elementos de um ser que lhe é anterior, conforme denuncia seu “jeito de falar e de fazer”, espontaneamente se negando a “dobrar a língua” “falando bem falado” e a formalizar o discurso em uma linguagem jurídica. São expostas tensões geracionais e de gênero nas formas de conduzir assuntos da comunidade, particularmente nos usos da língua. O projeto de doutorado em Sociologia ora em exposição encontra-se em fase de conclusão na UFSCar.

Palavras-chave: des-re-identificações; linguagem; dialeto rural; quilombo; estuciar

 

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TRAMA

TRAMA

O Grupo TRAMA (Terra, Trabalho, Memória e Migração) dedica-se à pesquisa acadêmica e extensão. Está no PPGS da UFSCar, e é coordenado por Maria Ap De Moraes Silva.

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